Aline
nos conta um pouco de você, como se tornou cadeirante?
Eu andava normalmente até os 15 anos de idade,
até que um dia logo após eu acordar, senti uma forte dor nas costas, deitei-me
para ver se a dor passava, e com pouco tempo deitada, senti minha perna
esquerda formigar e em seguida adormecer, passados alguns minutos aconteceu o
mesmo com a perna direita, fui levada ao hospital, e diagnosticada com mielite
transversa é uma inflamação na medula, que causou uma lesão medular.
Para
você, como é ser cadeirante?
Ser cadeirante para mim é uma coisa normal, dentro de casa
como faço tudo sozinha, muitas vezes eu até esqueço que sou cadeirante. Só lembro que sou cadeirante quando encontro
um lugar sem acessibilidade, ou quando algum estranho me para na rua para
perguntar o que aconteceu, o porque estou na cadeira de rodas.
Como
você lidou com a sua deficiência no início, teve aquele momento de rejeição da
realidade?
De começo eu achava que minha vida só teria sentido se eu
voltasse a andar, eu quando andava adorava fazer caminhada, e jogar voleibol
fim de semana junto com os amigos, ver eles indo e não poder ir, era muito
triste, como eu estava em plena adolescência eu achava que estava perdendo a
melhor fase da minha vida. O que tornou tudo um pouco mais difícil foi o fato
de que minha mãe já era falecida, então tive que depender de parentes e até de
vizinhos para me ajudar, até eu conseguir voltar a fazer tudo sozinha.
Quais
as suas maiores limitações durante o seu dia a dia?
Dentro de casa não tenho nenhuma limitação, faço tudo
sozinha, acho que minha única limitação é quando tenho que sair de casa, pois
moro em uma rua de grande inclinação, então não consigo sair sozinha, tenho que
esperar meu marido estar em casa para ele ir comigo.
Do
ponto de vista de uma pessoa com deficiência, quais foram os desafios e
dificuldades que enfrentou até hoje?
Acho que o desafio maior sempre vai ser a falta de
acessibilidade e ter que lidar com pessoas preconceituosas.
Você
já sofreu alguma forma de preconceito?
Indiretamente, eu costumo dizer que quem tem preconceito
normalmente é covarde, fala para alguém próximo a você mas não diretamente para
você, Mas já acharam estranho eu namorar um andante, já falaram que eu seria um
peso para meu marido, as vezes também duvidam que eu consigo fazer os afazeres
da casa sozinha, a única coisa que os preconceituosos não conseguem disfarçar é
os olhares de desprezo e de indiferença, isto muitas vezes já percebi
infelizmente as pessoas ainda tem a ilusão que deficiente é doente e incapaz.
Quais
são os teus sonhos?
Morar em um lugar mais acessível, ter uma qualidade de vida
melhor, ter alguns aparelhos para que eu possa fazer a fisioterapia em casa,
claro que eu também sonho que as pessoas de uma vez por todas tratem os
deficientes como pessoas normais.
A sua cidade é
inclusiva ou precisa melhorar, o que deveria ser mudado?
Resposta: Não é inclusiva, para ser inclusiva falta muito,
poucos lugares são acessíveis, as vezes os lugares são retos, mas não tem
rampas, e quando tem são desniveladas. Acho que a maior mudança estaria na
consciência das pessoas, os comércios não fazem questão nenhuma de colocar
rampas, como se cadeirante também não fosse cliente, fora as vagas de
estacionamentos e banheiros destinados a deficientes, normalmente muitos
andantes não respeitam e isto acaba atrapalhando muito.
Para
encerar, qual a mensagem que você deixaria para os leitores do Amor Pela Vida?
Não deixe que ninguém interfira em seus sonhos, e nem que
diga que você não é capaz! Siga seus objetivos! Nem sempre vai ser fácil! Mas o
mais importante é não desistir, se supere a cada dia e quando menos esperar os
sonhos que pareciam impossíveis estarão sendo realizado!