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segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Andei até os meus 15 anos, "Muitas vezes esqueço que sou cadeirante".


 Aline nos conta um pouco de você, como se tornou cadeirante?

Eu andava normalmente até os 15 anos de idade, até que um dia logo após eu acordar, senti uma forte dor nas costas, deitei-me para ver se a dor passava, e com pouco tempo deitada, senti minha perna esquerda formigar e em seguida adormecer, passados alguns minutos aconteceu o mesmo com a perna direita, fui levada ao hospital, e diagnosticada com mielite transversa é uma inflamação na medula, que causou uma lesão medular.

Para você, como é ser cadeirante?

Ser cadeirante para mim é uma coisa normal, dentro de casa como faço tudo sozinha, muitas vezes eu até esqueço que sou cadeirante.  Só lembro que sou cadeirante quando encontro um lugar sem acessibilidade, ou quando algum estranho me para na rua para perguntar o que aconteceu, o porque estou na cadeira de rodas.

Como você lidou com a sua deficiência no início, teve aquele momento de rejeição da realidade?

De começo eu achava que minha vida só teria sentido se eu voltasse a andar, eu quando andava adorava fazer caminhada, e jogar voleibol fim de semana junto com os amigos, ver eles indo e não poder ir, era muito triste, como eu estava em plena adolescência eu achava que estava perdendo a melhor fase da minha vida. O que tornou tudo um pouco mais difícil foi o fato de que minha mãe já era falecida, então tive que depender de parentes e até de vizinhos para me ajudar, até eu conseguir voltar a fazer tudo sozinha.


Quais as suas maiores limitações durante o seu dia a dia?

Dentro de casa não tenho nenhuma limitação, faço tudo sozinha, acho que minha única limitação é quando tenho que sair de casa, pois moro em uma rua de grande inclinação, então não consigo sair sozinha, tenho que esperar meu marido estar em casa para ele ir comigo.

Do ponto de vista de uma pessoa com deficiência, quais foram os desafios e dificuldades que enfrentou até hoje?

Acho que o desafio maior sempre vai ser a falta de acessibilidade e ter que lidar com pessoas preconceituosas.

Você já sofreu alguma forma de preconceito?

Indiretamente, eu costumo dizer que quem tem preconceito normalmente é covarde, fala para alguém próximo a você mas não diretamente para você, Mas já acharam estranho eu namorar um andante, já falaram que eu seria um peso para meu marido, as vezes também duvidam que eu consigo fazer os afazeres da casa sozinha, a única coisa que os preconceituosos não conseguem disfarçar é os olhares de desprezo e de indiferença, isto muitas vezes já percebi infelizmente as pessoas ainda tem a ilusão que deficiente é doente e incapaz.

Quais são os teus sonhos?

Morar em um lugar mais acessível, ter uma qualidade de vida melhor, ter alguns aparelhos para que eu possa fazer a fisioterapia em casa, claro que eu também sonho que as pessoas de uma vez por todas tratem os deficientes como pessoas normais.

A sua cidade é inclusiva ou precisa melhorar, o que deveria ser mudado?

Resposta: Não é inclusiva, para ser inclusiva falta muito, poucos lugares são acessíveis, as vezes os lugares são retos, mas não tem rampas, e quando tem são desniveladas. Acho que a maior mudança estaria na consciência das pessoas, os comércios não fazem questão nenhuma de colocar rampas, como se cadeirante também não fosse cliente, fora as vagas de estacionamentos e banheiros destinados a deficientes, normalmente muitos andantes não respeitam e isto acaba atrapalhando muito.

Para encerar, qual a mensagem que você deixaria para os leitores do Amor Pela Vida?

Não deixe que ninguém interfira em seus sonhos, e nem que diga que você não é capaz! Siga seus objetivos! Nem sempre vai ser fácil! Mas o mais importante é não desistir, se supere a cada dia e quando menos esperar os sonhos que pareciam impossíveis estarão sendo realizado!

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Entrevista com intercambista cadeirante, nada é impossível


Pessoal, hoje estou trazendo para vocês uma postagem bem diferente aqui no blog que é a entrevista que fiz com uma colega cadeirante e blogueira, a Paula Oliveira de 24 anos. Ela tem um blog muito bacana chamado Ô Essa Menina o qual eu recomendo muito, onde ela conta as suas experiências e perspectivas enquanto cadeirante. A Paula já teve a oportunidade de fazer duas viagens internacionais, uma para o Canada e outra para a Irlanda. Nesta entrevista ela vai nos contar um pouco de como é ser cadeirante, de suas experiências fora do Brasil e nos tirar algumas dúvidas que você aí andante gostaria de saber.

Paula Oliveira em Cranbrook, BC, Canadá

Paula, conta para a gente um pouco de você.

Bom, eu tenho Amiotrofia Espinhal e uso cadeira de rodas desde os 11 anos. Hoje, com 24 anos, sou recém-formada em Administração e moro na Bahia. Adoro estudar, gosto de aprender e me considero uma pessoa bastante determinada.

Agora uma pergunta polemica: para você, como é ser cadeirante?

É engraçado pensar em mim mesma como cadeirante porque eu nunca me vi dessa forma. Sempre levei uma vida muito normal, dentro do possível. Minha deficiência nunca foi empecilho para que eu pudesse alcançar os meus sonhos e objetivos. Claro, algumas coisas sempre foram mais difíceis para mim, mas eu tive a sorte de ter uma família muito acolhedora e equilibrada que me deu base para ser quem eu sou hoje.

A vida de cadeirante tem seus percalços, claro, mas, de um modo geral, eu levo a minha vida de forma mais normal possível e, por causa disso, percebo que as pessoas ao meu redor tem a mesma percepção de mim.

Quando você se lembra que é cadeirante?

Quando sinto que sou tratada com pena ou como se minha deficiência me tornasse incapaz de realizar alguma tarefa. Acho que a pior forma de preconceito é a subestimação.

E na sua época de escola, como foi? Passou por algum problema? Já que a acessibilidade era praticamente nula.

Nunca tive problema algum na escola ou na faculdade. Aonde não havia acessibilidade sempre tive a sorte de contar com pessoas de boa vontade que me ajudavam. Meu pai também sempre foi muito presente em minha vida escolar e se cheguei aonde estou hoje é por causa dele.

Você teve a oportunidade de fazer algo que ainda é considerado raro para nós cadeirantes. Como os dois intercâmbios aconteceram na sua vida e como foram as duas experiências?

Eu sempre tive esse sonho de fazer intercâmbio, mas, por diversas vezes e por vários motivos, isso sempre pareceu ser um sonho distante.

A minha primeira viagem internacional aconteceu na Irlanda na qual eu tive uma amiga me acompanhando e foi uma experiência absolutamente incrível. Eu passei sete semanas numa cidade chamada Limerick onde eu estudei inglês na universidade local. Na segunda viagem eu consegui uma bolsa de estudos do governo canadense e fui estudar lá por quatro meses. A viagem para o Canadá foi completamente diferente porque eu fui sozinha para cursar o último semestre do curso de Administração em um college. Mas apesar de ter ido sozinha, fiz várias amizades lá, inclusive com uma colega brasileira que me auxiliou muito em todo o período.

O Canadá é um país incrível, completamente acessível, até mais que a Irlanda e eu fui muito bem acolhida em ambos os países. Posso dizer, com toda certeza, que essas viagens foram a melhor coisa que já fiz na vida.

Do ponto de vista de uma pessoa com deficiência, quais foram os desafios e dificuldades nas suas viagens?

Mesmo tendo companheiros de viagem, um intercâmbio é, claro, uma realidade bem diferente daquela que estava acostumada no meu dia a dia e eu tive que aprender, às vezes do modo mais difícil, a me tornar mais independente.

Como cadeirante eu sempre contei com o apoio da minha família para tudo que precisava, mas viajando eu tive que aprender a cuidar de mim mesma. Na viagem para o Canadá as dificuldades foram maiores, mas essa foi também uma fase de muito crescimento pessoal e hoje posso dizer que sinto muito orgulho de mim por ter vencido cada obstáculo.

Contudo, em ambas as viagens eu fui muito abençoada de poder contar com pessoas maravilhosas que cruzaram o meu caminho e se tornaram grandes amigos. Também recebi muito apoio do college canadense que foi essencial para que tudo corresse bem durante o tempo que passei lá.

Você experienciou alguma forma de preconceito no exterior?

Quando eu ganhei a bolsa para estudar no Canadá, um dos colleges se recusou a me receber. Eles alegaram que tinham receio de que algo me acontecesse e que a responsabilidade recaísse sobre eles. Em função disso, naquele ano, perdi a bolsa e me senti completamente injustiçada. No ano seguinte eu me candidatei novamente ao programa e optei por outro college que, para a minha surpresa, teve uma reação totalmente diferente a do college anterior. Fui recebida por esse college com muito carinho e eles foram extremamente atenciosos comigo do começo ao fim.

Para encerar, qual a mensagem que você deixaria para os leitores do Amor Pela Vida?

Primeiramente quero agradecer você pelo espaço no seu blog e por contar um pouco da minha história para os seus leitores e espero que o meu exemplo sirva como ajuda para os cadeirantes e deficientes de modo geral que, assim como eu, tem o sonho de fazer intercâmbio.
Nada é impossível.
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